quarta-feira, 29 de novembro de 2017

RECADOS A UM FUTURO PENITENCIARISTA

Por: Odirlei Arruda de Lima

Pretendo aqui repassar a você, futuro penitenciarista, alguns conceitos axiomáticos, imprescindíveis para vencer na vida e na carreira, conceitos esses que busquei a ler, compreender, absorver e cumprir, pois foram eles e a minha incansável labuta em prol do Sistema Penitenciário Paulista, que me promoveram a ocupar a função de serviço público tão difícil e desafiadora que é ser um Gestor Prisional.
Quero dizer a você algo que sempre enalteço em minhas reuniões de trabalho: que uma Unidade Penal é uma “instituição de um motor só, porém, com várias engrenagens ontologicamente necessárias para seu perfeito funcionamento”. Que engrenagens são essas, futuro penitenciarista?
São todas aquelas pessoas que ocupam cargos públicos e funções públicas na Secretaria de Estado da Administração Penitenciária. Do servidor de menor graduação até aquele que ocupa o topo da nossa hierarquia institucional. Por isso vamos abordar três itens importantes desta “engrenagem”: saber trabalhar em equipe, saber escutar e praticar empatia.
A importância de se aprender a trabalhar em equipe, algo que você sabe, porém, deveria melhorar esse seu aprendizado. Uma equipe é um conjunto de pessoas trabalhando de forma cooperativa e interdependente para a realização de um objetivo comum. Porém, isso não significa que você sempre irá trabalhar com pessoas das quais gosta e com as quais tem afinidade: “trabalhar em equipe é trabalhar com quem precisamos trabalhar”. Sem sombra de dúvida, se você tivesse trabalhando hoje, com uma equipe de pessoas afins, seria ótimo, mas a competência de trabalhar em equipe pressupõe que você consiga trabalhar de maneira produtiva com pessoas diferentes de você. Quem aprende a trabalhar em equipe aprende que o resultado do relacionamento profissional depende mais de três pilares comprometimento, respeito e cooperação que no final das contas estes valem mais que do que afinidade. Com muito respeito, lhe digo esperançoso penitenciarista, que podemos chegar muito mais longe trabalhando com pessoas unidas pelo mesmo objetivo, haja vista que aprender a trabalhar em equipe, harmoniosamente, é fundamental para a construção de uma carreira sólida. Não podemos esquecer que: “jogadores geniais ganham jogos, ao passo que verdadeiras equipes ganham campeonatos”.
Outro tópico importante a lhe expor é a relutância que você tem em aceitar críticas construtivas. Muitas vezes achando que, aqui em nosso trabalho, elas só devem se originar de sua chefia imediata ou mediata e mesmo assim, de difícil compreensão de sua parte. Entenda que as críticas profissionais construtivas, em algumas situações, poderão vir em uma péssima “embalagem”, pois muitas pessoas não sabem escolher a melhor maneira e o melhor momento para dizer as coisas. Quando isso acontecer com você, preste mais atenção ao conteúdo da crítica que em sua forma. Seja grato às críticas construtivas: elas são sempre um convite ao aperfeiçoamento e um poderoso remédio contra a sua vaidade. Com a devida permissão, julgo importante pedir a você, no cotidiano da atividade penitenciária, para aprender a escutar e entender que há uma crucial diferença entre escutar e ouvir. Em geral você ouve muito, mas escuta pouco e isso está escancaradamente ligado a sua pessoa no desempenho da atividade carcerária. Daí o ditado popular: “Entrou por um ouvido e saiu pelo outro”. Escutar dá trabalho porque consiste em ouvir com atenção, avaliação e reação. Escutar é “ouvir atentamente”; portanto, é um processo seletivo. Você escuta com maior facilidade aquilo que lhe interessa, e desconsidera (ouvindo sem escutar) aquilo que julga desnecessário, contrário aos seus interesses, ou que não te cativa. Não só ouvir, mas escutar requer um esforço consciente, meu caro profissional. “Para escutar bem, devemos valorizar o que os outros têm a dizer e prestar total atenção ao que está sendo dito (inclusive nas “entrelinhas”), pois o mais importante, na maioria de nossas conversas, é você escutar o que não está sendo dito”. Falta de humildade (acreditar que sabe tudo sobre o tema), arrogância (acreditar que não vai ganhar nada em ouvir o outro colega e os superiores hierárquicos), concentração deficiente, preconceitos e distrações prejudicam gravemente sua capacidade de escutar. Não interrompa o outro e não comece um “diálogo interior” antes de escutar tudo atentamente. Se você, predestinado penitenciarista, continuar a defender internamente seu ponto de vista enquanto o outro fala, passará a ouvi-lo e deixará de escutá-lo. Não prejulgue o que está escutando. Escute tudo primeiro, depois reflita, e só então tire suas conclusões. Saber escutar vai ter um impacto decisivo na sua carreira e na qualidade dos seus relacionamentos profissionais, principalmente com os seus superiores hierárquicos.
A última dica é que você pode praticar também a empatia com seus colegas de trabalho, pois viver profissionalmente em equipe é sinônimo de relacionamento e não devemos agredir os outros com a nossa forma/modo de nos relacionar.
As ponderações enaltecidas podem estar sendo dirigidas a você por inúmeras razões, mas a principal delas é para torná-lo um verdadeiro penitenciarista, que tem o devido cuidado com a credibilidade, que só é conquistada com o passar do tempo e em relacionamento caracterizado por atitudes sucessivas e suficientes para demonstrarem a qualidade de nosso caráter e profissionalismo.
Por tudo isso penitenciarista, reflita e fortaleça a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência de sua conduta profissional.