segunda-feira, 16 de outubro de 2017

COLUNA MEMÓRIA ORAL

Com: Ernani Mangelo Izzo

Sou Agente de Segurança Penitenciária Classe 6, sou graduado em pedagogia e em
música. Ingressei na estrutura prisional em meados de novembro do ano de 1991 na extinta Casa de Detenção Profº. Flamínio Fávero. Iniciei no Pavilhão 5, terceiro pavimento, aquele pavilhão era bastante complicado. Era o denominado “seguro” porque ali havia presos problemáticos e extremamente perigosos. 
Agente de Segurança Penitenciário Classe VI
Quem trabalha em unidade prisional, passa até mais de 12horas no serviço, porque a gente chega antes, tem que se trocar, a gente tem que conversar antes com os chefes do plantão que você está rendendo, o que está acontecendo, se tem preso no hospital, se você tem que mandar escolta para saída de fórum, etc....
Então você tem que chegar bem antes para tomar conhecimento de toda a rotina do presidio do dia anterior, da noite, ler livros de relatório, se o plantão do dia anterior ao seu, o que ele relatou lá, então você passa muito mais tempo, e na hora de ir embora você demora mais tempo passando seu plantão para outro chefe da noite que vem te rendendo.
 Com um tempo tem uns colegas que entram nesse embalo, falam determinadas gírias e mesmo quando chegam em casa e falam gíria. Tem funcionário que ao invés de falar para preso: ”Ah vai prá cama, vai dormir”, ele diz: “vai pra jega”. E quando chega em casa fala assim com o filho, a criança já entendo isso daí ela já sabe, já conhece a gíria, eles acham engraçado. Particularmente quando eu conheço um funcionário que fala assim eu peço para ele que não é bom ele ensinar isso para o filho, porque a criança vai para a escola e começa a falar com os amigos dele com essa linguagem.
Junto com a linguagem própria existem também elementos culturais da cadeia. Lembro a primeira vez que eu vi em funcionamento o alambique, com os presos fabricando a “Maria-louca”, a bebida alcoólica dentro do presídio, aquilo foi fascinante para mim. Eu não tinha noção de destilaria e ali eu fui vendo, foi deslumbrante aquilo, porque muitos funcionários chegavam a aprender produtos em fermentação para fábrica de “Maria-louca”, mas nunca chegavam a ver o processo destilação. Como que os presos faziam aquilo? Uma engenhoca né? Aquilo foi um negócio assim que eu aprendi. E eu até aprendi, porque é um negócio que você vai vendo e aprende a cultura da cadeia.
Sempre que possível, orientamos os mais jovens sobre os perigos da prisionalização. E o que eu puder fazer de melhor eu vou fazer em prol do sistema prisional, pois eu visto a camisa, eu posso dizer para você que eu visto a camisa, tenho horário para chegar, mas não tenho horário para sair, e faço o que for possível.