quarta-feira, 3 de maio de 2017

COLUNA MEMÓRIA ORAL


Com: Joana Carolina Pinto Apolinário

 Bom, meu nome é Joana Carolina Pinto Apolinário, comecei a minha vida no sistema penitenciário em Porto Alegre, como freira e trabalhei na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, que é o nome da fundadora da Congregação do Bom Pastor.  Vim pra São Paulo em 1972, para trabalhar no Presídio de Mulheres. Já em 1975, nós mudamos para Penitenciária Feminina da Capital lá na Zaki Narchi e lá eu fiquei até 1977.
       Época que as freiras ofereciam atendimento às presas 24 horas por dia, atendendo individualmente, pois a presas carecem de conversa e de atendimento individualizado.
Mas as freiras não compreendiam o que hoje, nós compreendemos sobre a necessidade de um trabalho técnico, cientifico uma abordagem com uma visão criminológica. Então elas trabalhavam pela religião, pela dedicação e pela esperança de reabilitar aquela moça, mas também, nós não podemos esquecer que os delitos eram outros... 
        Naquele tempo ocorriam várias atividades importantes, não só se guardava as presas, mas dava- se o ensino. Além da escola, vinha gente de fora para ministrar palestras, havia diversos grupos de jovens que nos visitava todo fim de semana. E quando tinha carnaval, eles iam brincar lá dentro com as presas que produziam suas próprias fantasias, sabe; havia gincanas, havia um time de voleibol também. Lá dentro, não era só presídio, parecia mais uma escola interna. 
    Nosso trabalho tinha como objetivo a reabilitação, colocar essa mulher dentro da sociedade novamente moralmente transformada, porque o trabalho era um trabalho realmente religioso. Então, aí percebemos uma diferença entre o trabalho religioso e o trabalho técnico. 
      Falando do trabalho técnico, acredito que atualmente o que pode fazer a diferença para os profissionais hoje admitidos em concurso público são o treinamento e a vivência dentro do presídio, visando conhecer quem é essa mulher presa. 
    Os iniciantes na estrutura penitenciária precisam conhecer onde vão trabalhar e com quem está trabalhando. Nós temos que conhecer essa pessoa presa, sem conhecer essa pessoa não dá para fazer um trabalho nenhum, não adianta. E conhecendo o indivíduo, é possível desenvolver o trabalho técnico voltado para o projeto, para a programação e fazer uma programação em cima desse projeto. 
     Eu agradeço a oportunidade de falar com vocês, não sei se respondi a altura, mais eu tentei, não sou de muitas palavras. Você já ouviu dizer aquele provérbio: “quem muito fala, muito erra”?